Aves curiosas é uma rúbrica que pretende mostrar algumas aves “diferentes” observadas no arquipélago dos Açores. Essa diferença manifesta-se muitas vezes em colorações atípicas, nas diversas espécies, quer sejam casos de indivíduos leucísticos, albinos ou melânicos. Nos Açores é frequente a observação de melros, estorninhos e pardais leucísticos (ou parcialmente), ou de toutinegras melânicas, no entanto outras espécies têm sido observadas apresentando plumagens e colorações curiosas.
Esta rúbrica pretende mostrar alguns desses casos, documentados fotograficamente, por todos quantos queiram colaborar com registos. Envie os seus registos para avesdosacores@gmail.com
Tipos de coloração atípicas
Leucismo – O leucismo é uma alteração frequente da pigmentação, resultado de um bloqueamento celular na deposição de melanina em algumas partes do corpo. Surgem assim indivíduos com manchas brancas ou por vezes totalmente brancos. Estes últimos podem confundir-se com albinos, contudo distinguem-se destes pela ausência de olhos vermelhos.
Albinismo – O albinismo, ao contrário do leucismo, afecta sempre o corpo todo do animal, conferindo-lhe uma cor branca e olhos cor rosa ou vermelhos.
O albinismo resulta de uma total ausência de melanina devido a uma incapacidade de produção da mesma.
Toutinegra melânica
Melro parcialmente leucístico
Melro parcialmente leucístico
Tendo ficado conhecida como “Pena Branca”, esta melra apareceu pela primeira vez nos jardins do Departamento de Ciências Agrárias, então, na Terra Chã. Pela peculiaridade de ter algumas penas da cauda brancas era facilmente identificada. Foi observada quase durante dois anos, sempre na mesma área. Como vem descrito em alguma literatura, as aves com plumagens leucísticas tendem a ter uma menor esperança de vida, devido a estarem mais expostas a predadores e também por as penas leucísticas serem mais frágeis. Ao certo não se sabe quantos anos viveu a “Pena Branca” (pelo menos dois), mas teve uma vida atribulada. Era vista muitas vezes em voos desajeitados, devido à perda frequente de algumas das suas penas leucísticas.
Cagarro leucístico
Priolo leucístico
Se é um privilégio ir ao Nordeste (São Miguel) observar os endémicos priolos, mais espantoso é fazer a observação de um priolo quase branco. Ao contrário dos seus parentes continentais (dom-fafe) os machos do priolo não apresentam colorações vistosas. Tanto a fêmea como o macho caracterizam-se por uma plumagem de tons creme-acinzentados, com a cabeça, asas e cauda pretas. Este priolo, observado na Algarvia (Nordeste), apresenta uma coloração quase totalmente branca, mantendo apenas alguma da coloração típica nas asas e na cor do bico. É um caso de leucismo quase completo, bastante raro de se observar.
Priolo parcialmente xantocrómico
Para os mais desatentos este priolo poderia passar como um individuo normal. Contudo para um olhar mais atento ressaltam a estranheza da cor amarela do bico e das patas (tarsos) . Esta é uma forma de xantocromia, ou seja, a substituição de uma cor pelo amarelo. Neste caso o bico e as patas deste priolo apresentam a cor amarela em vez da típica coloração preta.
Toutinegra melânica
Durante uma sessão de anilhagem, integrada na tese de doutoramento de Beatriz Romeu, para o estudo da dispersão do cedro-do-mato pelas aves, esta ave singular veio-nos cair nas redes. Tendo conhecimento do melanismo nas toutinegras e sabendo também que este é mais comum nas ilhas Atlânticas, afectando no caso da Madeira e dos Açores cerca de 2% da população, esta foi a minha primeira observação de uma fêmea melânica. O melanismo nas toutinegras expressa-se, nos machos, por apresentarem uma cabeça toda preta, estendendo-se até ao peito, e o resto da plumagem com tons de verde-azeitona e um cinzento mais escuro do que a coloração normal. As fêmeas, por sua vez, apresentam menos contraste e mostram uma plumagem de tons mais acastanhados e verde-azeitona.
Canário-da-terra parcialmente leucístico
Melro parcialmente leucístico
Pardal parcialmente leucístico
Estorninho parcialmente leucístico
Pardal leucístico
Melros parcialmente leucísticos no Pico
Dia 20 de Maio, na sequência dos nossos censos de Primavera, nas pastagens altas, acima da Madalena, perguntávamo-nos se o nosso amigo “melro-de-cabeça-branca”, que havíamos observado pela primeira vez no dia 01 de Março deste ano, ainda frequentaria as pastagens próximas do Parque Florestal da Serra das Velhas (ver acima a foto tirada por Valter Medeiros a 21-03-2011). E de facto lá estava ele, embora, para efeitos práticos, não tenha sido registado como uma nova espécie… Ainda nesse dia observámos mais quatro indivíduos parcialmente leucísticos: três inds. relativamente perto deste local e outro nos matos de Santa Luzia.
“Melro-de-cabeça-branca” passa o Natal na Serra das Velhas
Tendo voltado ao Pico em Novembro, com a alegria de quem procura um velho amigo, visitámos o local à procura do nosso “melro-de-cabeça-branca”, que havíamos visto pela última vez em Julho. E, de facto, não nos fez esperar muito. Lá estava ele, na mesma zona onde o costumávamos avistar. No início de Janeiro ainda o voltámos a avistar, sempre no mesmo local.
Este exemplo ensina-nos que, muito provavelmente, quando nos cruzamos aqui com outros indivíduos, estamos na verdade a ver as mesmas aves; apenas não as reconhecemos.
Pardais leucísticos
Na Terceira a observação de alguns destes exemplares é “regular”. Dia 16 de Janeiro de 2012 foi observada uma ave totalmente branca, perto da Canada Entre Picos (Carlos Pereira). Infelizmente a ave não se deixou fotografar.
Dia 04 de Fevereiro, no Paul da Praia, Jerry Bettencourt conseguiu este registo fotográfico de um indivíduo parcialmente leucístico:
Estorninho e pardal parcialmente leucísticos na Terceira
No dia 26 de Novembro de 2012 Luís Barcelos e Susana Ázera observaram, na Canada Entre Picos, um estorninho dos Açores Sturnus vulgaris granti e um pardal Passer domesticus parcialmente leucísticos.
De referir que a observação de indivíduos parcialmente/leucísticos destas espécies não é inédita nos Açores. Nem na Canada Entre Picos… Não será caso para mudarmos o nome da dita canada, mas não deixa de ser um facto muito curioso.
Pardal leucístico no Pico
Toutinegra “estranha”?…
Não, apenas a precisar de “boas maneiras”…
No primeiro dia deste ano recebíamos um e-mail, de São Miguel, com anexo fotográfico, enviado pelo Nuno Bicudo da Ponte, em que se/nos interrogava sobre se era “normal esse vermelho nas toutinegras?”.
Confessamos que tivemos dúvidas. Olhámos a foto demoradamente, consultámos alguma bibliografia, e concluímos – olhando ainda a fotografia – que a cor avermelhada na garganta e testa se devia ao facto, muito provável, de a ave se andar a alimentar da flor de Aloe vera (a planta onde a ave está pousada).
Uns dias mais tarde, 06-01-2013, quando fazíamos um censo para o atlas de aves invernantes, na Caldeira de Santo Cristo (São Jorge), observámos pelo menos duas toutinegras muito parecidas a alimentar-se de flores de Aloe vera. Estava solucionado, definitivamente, o mistério.
Se fôssemos mais dados às “novas tecnologias” (neste caso bastava estarmos mais atentos ao que se passa em nossa casa: http://aves.team-forum.net/t6351-felosa-comum-a-deliciar-se-com-o-polen-da-flor-do-aloe-vera) teríamos dissipado as nossas dúvidas muito mais cedo.
Melro leucístico em Santa Maria
Cagarro leucístico
Aves dos Açores: avesdosacores@gmail.com
Podiam dizer mais coisas sobre opriolo, por exemplo o seu regime alimentar o tipo de bico… pelo menos essa é a minha opinião
Olá Margarida,
de facto pensámos, desde o início, em ter mais informação (Regime alimentar, biometrias, estatuto, etc.), não só para o priolo, mas em relação a todas as espécies publicadas. Hesitámos, e acontece a que a nossa opção se deveu ao facto de temermos ser exaustivos e também por estarmos mais focados em informar sobre a identificação, distribuição e onde observar cada espécie. Enfim, dar algumas dicas e informação actualizada para quem quizesse saber quais as espécies que existem nos Açores e onde poderão observá-las/fotografá-las.
Em relação “ao tipo de bico”, geralmente é o tipo de informação que incluímos, para cada espécie apresentada, pois tem muito a ver com a sua identificação. E, no caso do priolo, não descurámos essa informação.
Agradecemos o seu comentário, pois temos pensado muito em incluir mais informação nas páginas das espécies. Pode ser, caso esta vontade se manifeste por um número crescente de “leitores”, em apressar esta nossa aspiração.
Boas observações
Espetacular o vosso site! Informação muito precisa e coerente! Estou a fazer um trabalho de investigação sobre birdwatching e sobre o caso do priolo e ajudaram-me bastante no esclarecimento de assuntos técnicos como as tipologias de aves. Bom trabalho!
Trabalho bem executado de pesquisa, com fotos que não são comuns, gostei de ver a foto, São Mateus (Pico), 24-10-2010 (Foto: Valter Medeiros), intressante desperta curiosidade, bem como as outras e sua respectiva descrição (comentários).
Caro João Resendes,
obrigado pelo seu simpático comentário. Mesmo se nos sentimos algo culpados por ter “abandonado” um pouco esta rúbrica. Na verdade pensamos “voltar”, rapidamente, com novas observações e fotos curiosas.
Boas observações
“devido à perca frequente de algumas das suas penas leucísticas.” _ Desculpem, perda. perca é um peixe.
Bom dia António. Obrigado pela atenta leitura e pela colaboração, que nos permitiu corrigir esse pequeno erro ortográfico.
Tem um pássaro que não tinha visto antes por aqui e tenho fotos, será que me ajudam a identificar e saber se é alguma espécie pouco comum cá?
Deixo-vos o e-mail: jeiras@hotmail.com.
Obrigado