Turdus merula azorensis
Outros nomes: melro-preto (Continente)
Nos Açores, quase todos os passeriformes são apelidados de “melros”, ou melhor, de “mérrinhos”. Mas este é, oficialmente, o único melro dos Açores!
É amado por muitos, pelo seu canto melodioso, e pela presença assídua e grande sociabilidade em parques e jardins, sendo no entanto olhado com desconfiança, por alguns, por alegados prejuízos causados nas vinhas, árvores de fruto e pelo seu hábito de esgaravatar as hortas, em busca de insectos, larvas e minhocas.
Identificação
Espécie familiar e fácil de distinguir, podendo apenas ser confundida com o estorninho dos Açores, de tamanho e cor semelhantes. Contudo, quando se alimentam no solo, os estorninhos caminham, ao passo que o melro geralmente se desloca, alternadamente, aos saltinhos e a caminhar.
Tão conspícuo como temeroso, o melro não gosta que nos aproximemos, sendo frequente ouvir o sinal de alarme dos machos ao mesmo tempo que se vê uma ave preta a esquivar-se, num voo baixo e vigoroso.
Os machos adultos apresentam a plumagem toda preta e o bico amarelo-vivo, da mesma cor que o anel ocular. As fêmeas “vestem” cores mais discretas, em tons escuros/acastanhados e esbatidos, com o peito malhado de cor castanha. O seu bico tem algumas nuances de amarelo, mas é essencialmente manchado de castanho. Finalmente, os juvenis são mais acastanhados, praticamente todos malhados, com excepção das penas de voo, que são escuras, semelhantes às da fêmea. Nestes, o bico é uniformemente escuro. Em comum, todos têm as patas pretas-acinzentadas e a cauda comprida e quadrada, a qual os machos insistem em levantar quando pousam.
O canto do macho é constituído por uma melodia forte e melancólica, fazendo-se notar mais intensamente nos meses de Abril (a partir da segunda quinzena deste mês) e Maio. É frequente ouvir o melro a cantar em plena noite, embalando a madrugada.
Alarme, geralmente indivíduos nos dormitórios ao anoitecer/amanhecer
As fêmeas geralmente fazem o ninho em árvores ou sebes arbustivas, frequentemente em muros de pedra solta, mas é possível dar de caras com um melro a incubar no solo, sem que a erva tenha de estar muito comprida. Os seus ovos são azulados, sarapintados de castanho.
Abundância e calendário
Subespécie endémica. Residente. Ave bastante comum durante todo o ano e que ocupa uma variedade grande de habitats. Devido ao seu tamanho e cor, bem como ao seu comportamento, é fácil observá-la em busca de minhocas e afins em pastagens ou em extensões relvadas de jardins e parques urbanos. A disponibilidade de árvores e arbustos agrada-lhe, razão pela qual é abundante em zonas de mosaico. Apesar disso não descura florestas densas, desde que ofereçam bagas e frutos quanto baste.
Onde observar
Em todas as ilhas dos Açores, desde o nível do Mar até zonas de montanha, incusive nas zonas mais altas da montanha do Pico. Contudo, a sua presença é mais habitual em zonas de baixa/média altitude, em áreas relvadas, jardins, hortas ou extensões de mosaico agro-florestal. Também é fácil de observar à beira das estradas, vivendo no risco e esperando até ao último instante pela passagem dos carros para se atravessar à frente destes.
Corvo – Fácil de avistar enquanto se caminha no Caldeirão, bem como nas pastagens, um pouco por toda a ilha.
Flores – Um pouco por toda a floresta natural de altitude rica em cedro-do-mato.
Faial – Baía de Porto Pim, Feteira, Castelo Branco, Caldeira e Lagoas de Pedro Miguel.
São Jorge – Nas pastagens arborizadas do Norte Pequeno, na zona do parque eólico, na Fajã dos Cubres ou nas bermas das estradas que atravessam zonas florestais.
Pico – Abundante na Costa Oeste da Madalena, na Paisagem Protegida da Vinha do Pico; nos matos de São João e Santa Luzia, ao longo da transversal e da longitudinal, ou nas margens das lagoas do planalto central.
Graciosa – Presente em todo o tipo de pastagens da ilha ou nas hortas e jardins de Santa Cruz.
Terceira – Nas pastagens envolventes das lagoas do Junco e do Ginjal; Reservatório do Cabrito; margens do Paul da Praia da Vitória, Paul do Belo Jardim, Cabo da Praia, Lagoa do Negro e Pico da Bagacina.
São Miguel – Pastagens nas zonas da Achada das Furnas, Serra da Tronqueira e lagoas das Furnas ou Sete Cidades.
Santa Maria – Pode ser observado ao longo do trilho pedestre da Baía dos Anjos, na zona do aeroporto, ou na Ribeira de São Francisco.
Adorei ler este texto sobre os melros.
Eu vivo no Continente e também aprecio os melros que vivem nas minhas vizinhanças.
Abraço amigo
É sem dúvida uma ave lindíssima, a minha preferida! Tenho imensos no meu quintal. Adoro o canto deles e a forma como saltitam na relva. Gosto também da sua cor preta e o contraste do bico amarelo. Adorei saber mais sobre os melros pretos! Obrigado.Bjinhos
Não há dúvida que é uma ave muito interessante e com um cantar muito bonito.
Achei gralça à observação “Também é fácil de observar à beira das estradas, vivendo no risco e esperando até ao último instante pela passagem dos carros para se atravessar à frente destes.”
É que é mesmo assim!!!
Vivendo uma parte do ano em Cascais, em zona bastante urbanizada, não deixo de escutar de vez em quando o seu maravilhoso cantar, o que me faz tentar um diálogo de assobios com esta ave.
Obrigado.
Muito interessante este trabalho de pesquisa e de informação sobre o Melro, uma ave cujo canto muito aprecio. Se estivermos atentos, verificamos que não há dois melros com cantos iguais. Por três ou quatros anos, durante o mês de junho, acompanhei um melro que viveu perto da minha casa. Conseguia-o identificar e saber por onde andava através do seu canto que, a dada altura da sua cantoria introduzia uma variação bem definida e muito diferente dos outros melros.
Ouvi com atenção os dois cantos aqui gravados e gostei de ambos, mas o segundo (canto1) é delicioso. Penso que seria interessante e até enriquecedor colocar aqui mais cantos e, de preferência com outras variações.
Obrigado pela partilha.